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Mostrando postagens de outubro, 2019

Confronto

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O conforto me confronta como um peso leve. Da sua leveza vou abrindo espaço e logo creio que tudo corre como corre. Esqueço de criar novos espaços em mim, parto para escapes. Mas há o peso e desse sei que viro os olhos, desvio. Contudo, ele me pesa o corpo mesmo que eu o minta que não. Por puro medo, perco a novidade e também a rotina, que repetidamente parecida, nunca é igual. Assumo lugares desconfortáveis, pois se encontro neles um lugar conhecido e comum, imagino que o medo não estará lá, embora saiba que nada é garantia de um mundo coeso, já que ele não é assim. Mas meu corpo clama por calma e momentos sem a dor da espera e da confusão; onde a dor e a angústia dela não me sejam reais. Que espaços de dor são esses que busco esconder de mim? A complexidade do seu saber me são interditos, pois quando saio dessa casa de medo não encontro explicações, nenhuma resposta para o que me acontece quando vejo a mim mesma quase desnuda. Sou meio estranha a mim quando não tenho medo da minha f

O reencontro do homem cego com o menino que sabia olhar

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Foi o que aconteceu comigo somente na minha infância. Depois, nunca mais. Talvez eu pudesse apostar qualquer coisa que com você também deva ter sido assim, pois grande parte das coisas que vivemos já foram sentidas por muitas outras pessoas antes de nós, o que faz com que frequentemente vivamos a mesma velha história, inédita apenas para a gente. Quantas não foram as vezes que eu sorri os teus sorrisos e você chorou as minhas lágrimas... Falo dos atos de ver e de encontrar no escuro. O pirralho que eu era sabia bem disso. Dava as horas avançadas da tarde, o Sol caia e o breu tomava conta. Cansados de brincar o dia todo, os meninos reunidos na calçada somente esperavam pela última brincadeira, que só era possível quando sumisse a luz maior e com ela os contornos do mundo. Era o esconde - esconde. A rua fervia. Havia algo de inconsciente em nós que começávamos a brincar sem dizer palavra a respeito não avisando ninguém, o último que não conseguia se esconder era quem procurava primei

Esvazie-se!

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 Aqui estou eu, prostado em frente ao muro branco salpicado de fuligem da pós-modernidade, sem retorno, nem avanço e sem nenhuma possibilidade de entender. Um aviso no muro: ESVAZIE-SE! Uma frase imperativa pintada num muro de pedra branca em algum bairro periférico de uma grande cidade. Esvazie-se! Com isso o muro olha incessantemente para mim e de fato me esvazia, me sinto como se fosse uma bolha, começando a flutuar sem saber do que sou feito. Eu não tenho substância interior que me preencha, estou perdendo todos as minhas tripas humanas, me tornando apenas uma fina membrana sem cor e nem aspecto. A insistente transparência que forma o meu corpo é feita de nada. Sinto um espaço vazio dentro, que é justamente a sensação de não saber o que ou como se sente, onde se está e nem quem se é. Não tem nome e nem palavra. De repente, começo a notar que existem muitos mais avisos no muro, e um estranho paradoxo aviva em minha mente-bolha: QUEIRA VOCÊ, COMPRE VOCÊ, VENDA VOCÊ, VEJA VOCÊ, OUÇ