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Mostrando postagens de fevereiro, 2020

Ar

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   Me espanta a constatação de que o ar seja tão rarefeito na vida de alguém nascido sob o signo de aquário, um signo simbolizado por esse elemento. A maioria dos viventes, para poder existir, somente precisa do ar, que como um fino véu transparente, cobre toda a Terra, enquanto há certos espíritos que apenas se mantém vivazes por respirar um outro tipo de ar, um que somente pode ser encontrado no subterrâneo, no interior de alguma coisa viva. Esse ar do segundo tipo talvez não exista, sendo na verdade outra coisa, mas para esses espíritos ele é essencial, fazendo com que lhe seja imprescindível procurá-lo. Não falo de um capricho, como o é beber água com gás, mas sim de uma necessidade intrínseca. Nesse exato momento estou em plena busca desse ar. Não é uma atividade automática ou involuntária como encher os pulmões, tampouco um flutuar suave e delicado, mas ao contrário, procurar pela fonte acaba sendo um afundar insustentavelmente pesado e ingrato. Opostamente a alguns, não vou atr

A palavra escapou

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A palavra escapou meus pensamentos voam sentimentos intensos e flutuantes flutuantes apenas no sentido Não se fecham na mesquinhez Na imbecil tentativa de fazer todo Esse corpo, essa vida Não tolera mais tanta razão Na desrazoabilidade do acaso Um conjunto inesperado ocorre O ceticismo balança Por pouco quase me levo ao engano Mas é justamente no acaso Na permutabilidade dessa existência Que a beleza se mostra Por ser tudo por acaso A promessa, a potência, é claro minhas forças lutam Para uma dança formar Uma poesia Na caricatura desses versos A palavra que escapa se encontra Mas também se esconde Minha alma a conhece, muito bem… Filipe Zoppo

Algo no caminho

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           Manhã. Onze horas. Há muito tempo que não movo um músculo. Um esforço inominável seria necessário para me levantar daqui. Lá fora, a bola de fogo no céu se entretém castigando a todos. O ruído do gotejar da água no banheiro está tão alto que não me permite discernir os outros sons da cidade. É resultado da pia estragada que fiquei de consertar. Cada gota, depois de se lançar em queda livre, explode em estilhaços dentro da minha cabeça, dando passagem à próxima, marcando o tempo, segundo a segundo.          O amargor do café da manhã ainda persiste na língua. Tê-lo tomado não me surtiu o efeito desejado; não aconteceu aquele incrível início de final de semana prometido pelo gigantesco out-door. O dia que chuto ser sábado parece irmão gêmeo da segunda. Fui enganado. Sentado nessa cadeira, sinto a sua dureza se transformar na minha própria dureza. Este é o ponto onde a tensão física e mental de alguém extrapola e o que resta é uma estátua esculpida há muito tempo. A cadeira,