O brincar como trágica obra de arte
O ser humano tem sido um insatisfeito. Enquanto humanidade ou mesmo enquanto indivíduo, ele viveu sempre a história da sua insuficiência. Nasce sendo a criatura mais frágil do mundo, precisando de toda espécie de cuidado e demorando a se tornar independente o suficiente para viver por conta própria. Mas mesmo depois, quando a independência finalmente é adquirida, parece sofrer por ainda necessitar de algo mais poderoso do que ele para com que possa se apoiar — nesse sentido o ser humano é uma falta, infinita operação de subtração que luta eternamente para não sê-la.
Muito antes de possuir uma clara consciência da sua condição de falta, na sua infância, o humano inventou uma maneira de lidar com esse imenso espaço vazio, maneira que o acompanhará como salvadora até o fim da sua vida: ele inventou a arte. Era para o humano já ter perecido há muito tempo se não fosse a sua força criativa artística que, sendo idiossincrática dele, o ajudou a suportar os duros golpe da realidade vindos da natureza e de si próprio.
Como foi dito, na infância ele aprendeu, em tom de uma descoberta, a fazer arte brincando. Todo o brincar é artístico porque necessita que haja uma exteriorização dessa força criativa que possibilita a obra de arte - portanto, se toda a brincadeira se torna, dessa maneira, uma manifestação artística, toda pessoa é de certa forma artista enquanto brinca. Esse pensamento levanta questões sobre os limites da criatividade e da arte em si mesma; se toda criação é, em certa medida, artística, ou se toda arte é necessariamente criação. Mas deixando a questão para os que tratam dela, digamos que a arte está em tudo o que o ser humano cria para poder viver e suportar as mazelas do mundo; então, com isso, temos um ser artístico por excelência, criador da própria realidade e de si. Parece tudo muito bonito falando assim, a criança é artista enquanto brinca e o adulto é artista enquanto “brinca” de outras coisas de formas diferentes; mas não: mal e mal a nossa arte diária dá conta de transformar o mundo terreno no paraíso colorido pretendido pelo artista da vida cotidiana. Naturalmente, achar que seja assim tão fácil não pode suceder bem porque seria demasiado ingênuo; a arte não serve para isso - para o que é que ela serve mesmo? Não, o mundo não se colore bastando que o humano dê umas pinceladas nele, nem o humano muda se ele dar uma pinceladas em si próprio - não se esqueçam que somos insuficientes. A arte não aparece como um presente divino que é dado ao humano para que ele monte a sua casa, a sua família, a sua carreira, a sua vida; a arte acontece como aquele acréscimo gigantesco que surge de um animal que não está contente em apenas nascer, comer, reproduzir e morrer. Tudo o que transborda do interior do vasilhame que é o humano é o que estou chamando aqui de arte.
E se o ser humano não se satisfaz com o fato de simplesmente ser e, com isso, não tem outra escolha senão a de ser artista de sua própria existência, então não há razão para ele blasfemar contra essa condição: que seja ele um artista trágico, pois é o seu próprio destino - seja ele a criança que brinca sem poder prescindir disso, e seja ele o adulto que brinca à sua maneira sem poder dizer “não, a brincadeira acabou”.
Muito antes de possuir uma clara consciência da sua condição de falta, na sua infância, o humano inventou uma maneira de lidar com esse imenso espaço vazio, maneira que o acompanhará como salvadora até o fim da sua vida: ele inventou a arte. Era para o humano já ter perecido há muito tempo se não fosse a sua força criativa artística que, sendo idiossincrática dele, o ajudou a suportar os duros golpe da realidade vindos da natureza e de si próprio.
Como foi dito, na infância ele aprendeu, em tom de uma descoberta, a fazer arte brincando. Todo o brincar é artístico porque necessita que haja uma exteriorização dessa força criativa que possibilita a obra de arte - portanto, se toda a brincadeira se torna, dessa maneira, uma manifestação artística, toda pessoa é de certa forma artista enquanto brinca. Esse pensamento levanta questões sobre os limites da criatividade e da arte em si mesma; se toda criação é, em certa medida, artística, ou se toda arte é necessariamente criação. Mas deixando a questão para os que tratam dela, digamos que a arte está em tudo o que o ser humano cria para poder viver e suportar as mazelas do mundo; então, com isso, temos um ser artístico por excelência, criador da própria realidade e de si. Parece tudo muito bonito falando assim, a criança é artista enquanto brinca e o adulto é artista enquanto “brinca” de outras coisas de formas diferentes; mas não: mal e mal a nossa arte diária dá conta de transformar o mundo terreno no paraíso colorido pretendido pelo artista da vida cotidiana. Naturalmente, achar que seja assim tão fácil não pode suceder bem porque seria demasiado ingênuo; a arte não serve para isso - para o que é que ela serve mesmo? Não, o mundo não se colore bastando que o humano dê umas pinceladas nele, nem o humano muda se ele dar uma pinceladas em si próprio - não se esqueçam que somos insuficientes. A arte não aparece como um presente divino que é dado ao humano para que ele monte a sua casa, a sua família, a sua carreira, a sua vida; a arte acontece como aquele acréscimo gigantesco que surge de um animal que não está contente em apenas nascer, comer, reproduzir e morrer. Tudo o que transborda do interior do vasilhame que é o humano é o que estou chamando aqui de arte.
E se o ser humano não se satisfaz com o fato de simplesmente ser e, com isso, não tem outra escolha senão a de ser artista de sua própria existência, então não há razão para ele blasfemar contra essa condição: que seja ele um artista trágico, pois é o seu próprio destino - seja ele a criança que brinca sem poder prescindir disso, e seja ele o adulto que brinca à sua maneira sem poder dizer “não, a brincadeira acabou”.
Erik Rosa
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