Esse homem
"Ser homem não dá certo, ser homem tem sido um constrangimento."
Toda a história do pensamento desse homem foi um constrangimento. Sempre que este homem pensou sobre si foi por estar imensamente constrangido consigo. Quando foi que, em casos de plenitude e bem aventurança, ouviu-se qualquer palavra que soasse aos ouvidos deste homem como um pensamento? Não. Este homem não é feliz e não nasceu para sê-lo. A felicidade é um pensar que só aparece quando se pensa e só se pensa quando não se é feliz. O que ele faz é pensar. Pensar errado ou pensar certo, mas pensar. Eis aqui um meta-pensamento, este homem pensando sobre o pensar, e onde ele chega com isso? À conclusão de que se a vida fosse uma parede acimentada, e a própria felicidade fosse a imagem dela colorida depois de ser pintada, tão logo o pensamento seria um martelo, um serrote ou uma foice, ineficaz para a tarefa de pintá-la. O constrangimento deste homem ao pensar é o mesmo que o de alguém que tenta pintar a parede com um martelo. É o que ele faz toda a vez. E se alguém disser que apesar de todo o esforço e paciência, este homem conseguiria sim pintar a parede com um martelo, eu diria que nesse caso não se trataria de uma parede a qual se passa tinta para esconder o cimento seco, mas sim que ao fim e ao cabo este homem teria pintado um espelho, escondendo o cinza da argamassa da própria face.
ERIK ROSA
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