Dostoiévski não me fez chorar

Durante a minha releitura de Crime e Castigo, uma questão que o personagem Marmieládov faz ao protagonista me chamou demasiadamente a atenção, eis-a: "Porque eu não tinha para onde ir. O senhor pode compreender o que significa isso de não ter para onde ir?". Mas quem sabe se Raskolhnikov pode compreender? Marmieládov não tem teto. Não há lugar, uma casa, um lar. O que resta para ele é ficar perambulando de um cômodo sujo a outro. A miséria é a sua mais íntima familiar, por isso não tem parar onde ir.
 Mas naturalmente que tudo isso não passa de um disparate meu! É claro que o autor compreendia mais do que isso de não ter uma casa para morar, e, dessa forma, jogou todo o insustentável peso da seguinte sentença sobre mim: o problema é maior que isto, como se tudo se haveria resolvido caso Marmieládov possuísse teto, ou até mesmo se tivesse riqueza. Mas é de algo muito mais sério que estamos falando. Não existe localidade alguma que dê conta, lugar algum no mundo que sirva para trazer paz e satisfação quando se é alguém maior que o próprio mundo. Disso eu sei. Foi um duro golpe do russo, e, contudo, Dostoiévski ainda não me fez chorar... 
                                                                  Erik Rosa

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