Amor?
A palavra amor anda sobrecarregada, e se houvesse um jeito de parar sua falta de ação, Ana já teria feito algo para que o equilíbrio soubesse brincar com a ideia. Ela tinha pouca afeição por escrever sobre amor, ou ler, não porque fosse avessa a ele, mas porque supunha que ele não existia de fato, ainda. Não porque ele acabasse, mas acreditava que o que não começa não pode acabar. O amor é palavra morta e só palavra viva é ação. A palavra morta é aquela que de tanto se esconder atrás da ignorância do que diz, ela não só não tem sentido nenhum, como não vive em realidade nem quando é dita ou pensada.
A palavra raiva é que por enquanto é viva. Nem todas às vezes, mas na maior parte, pois acompanha o corpo quando é dita. A raiva palavra-viva-ação tem lugar especial na mente-coração, porém a palavra-morta amor só figura no mundo como afeição e carinho, seus potenciais substitutos, os quais tem proximidade, contudo, ocupar um lugar não é estar no lugar. Ana começava a duvidar que seu argumento fosse entendido, entretanto, não tinha medo da palavra intuição e intuía que tudo fazia alguma espécie de dança do sentido. Amar é simples e, no entanto, onde está a palavra amor? No discurso.
Na morte, talvez. Por que, seria amar morrer todo dia para alguém? Ana começava a pensar que paradoxalmente o amor não existia, mas que quando o céu se abre de manhã ou quando morria para/com alguém ele se tornava palavra viva por uns instantes. Aqueles únicos em que nós nos agarramos e pelo qual a vida toda faz sentido e logo depois, sentido algum.
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