Os largos e vigorosos passos
Os largos e vigorosos passos se esquivam das poças de água e barro na calçada. A chuva desaba transformando o dia em escuridão noturna. Guarda chuva numa mão e criança pequena num braço. Sobressalto, desvia de um buraco dissimulado. A fraca luz das nuvens mergulha na solidão da lama à medida em que a moça se aproxima da entrada da prisão. Surpresa pela criança ainda não ter chorado em razão do frio, ela encontra um motivo de alegria enquanto entra no prédio e espera pelo encontro sentada numa cadeira de plástico marrom. Luz artificial e paredes de leite fazem brilhar mais forte as gotas transparentes em seu casaco fino. Uns dedos molhados fazem-se sentir por dentro das meias brancas. Uma toalha macia aparece voando ao seu lado para enxugar a cabeça do menino. Ela agradece e enxuga. Espera. Olha para o menino e para o abismo de ser mãe. Espera. Lê-se Sala de Espera. Ela se perde em sons de vozes graves e agudas.
Sons de vozes graves e agudas. Espera. Um som de voz mais aguda que o de costume atrai a atenção da moça. É um chamado pelo seu nome. À direita do seu corpo alguém aparece lhe indicando o caminho. O menininho pesa em seu colo. Vozes graves e agudas. Ela passa pelo corredor e entra na ínfima sala. Os dois se encontram. A criança sente o próprio peso. A criança sente o peso dos braços que lhe seguram. O pai cobre o menino com um olhar curioso e tenta reconhecer nele os seus traços. Desvia os olhos e pergunta à mãe o que ela trouxe para ele da cidade.
Anos depois o menino mergulha na solidão da lama enquanto brinca de voltar, de retroceder.
erik rosa
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