A flor de hibisco ancorada

 Certo dia encontrei uma flor de hibisco presa a uma âncora... As flores são separadas por espécies e famílias, e são tratadas e nomeadas como iguais entre si a partir disso. Mas quem se demora ao olhar uma flor, sabe que não existe nenhuma igual a outra. A flor que encontrei naquele fatídico dia, primeiramente me chamou atenção por estar junto à uma âncora, não sabia seu nome, não sabia quais eram as suas ditas características. Nem sabia a qual família aquela flor pertencia, nem que se tratava de um hibisco, interessante não? Às vezes sem muitos nomes, imagens pré-prontas, catálogos em vitrines como em uma floricultura, temos uma experiência completa de conhecer uma flor.
          Olhei essa flor, senti o cheiro de suas pétalas e enquanto olhava aprendia sobre ela. Quando soube que se tratava de um hibisco, percebi que havia realmente muitas semelhanças. Ela não lidava muito bem com o frio, mas era virtuosa, bela e de maneira engraçada sua avidez e delicadeza contrastavam com a âncora a qual ela está amarrada. Essa mesma âncora a dá sustentação, segurança, mas talvez esconda a sua delicadeza e intensidade. Porém, quando o vento contorna a âncora e balança essa flor de hibisco, um belo movimento, ainda que contido, se mostra; seu cheiro se espalha e enche de esplendor o espírito desse observador paciente. Mas para além de tudo isso, nenhuma flor é igual a outra, mesmo que sejam nomeadas de uma mesma família, e essa flor de hibisco vai para além dos significados que a ela são remetidos.
          De tempos em tempos revisito essa flor, acabou se tornando fonte de alegria. Enquanto tento regá-la com a justa medida de água, posso ver o movimento de suas pétalas quando a água a toca, água que com toda a sua fluidez faz com que a luz do sol ao encontrá-la mostre ainda mais de seu brilho. A água pode acabar enferrujando a âncora, mas essa flor de hibisco também é capaz de perpetuar suas raízes ao solo, de seu próprio jeito; com a forma que ela mesma produzir, ela é conectada ao mundo, não apenas amarrada a âncora. E se parte dessa ancora se perder e essa flor se balançar ao vento ainda mais? Não sei ao certo, mas as possibilidades são excitantes. Continuarei a regar essa flor e me deslumbrar dia após dia com os mínimos detalhes, acho que nunca conseguirei perceber todos, mas continuarei aqui, para vê-la dançar.

Filipe Zoppo


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