Sobre o sentir e o pressentir


- Pressentir é sentir o que não se pode sentir ainda - É todo tipo de medo, os fugazes e os fóbicos. É o desejo que faz sentir sua satisfação mesmo sem nunca a satisfazer realmente - essas vontades que passam e que tão logo estão a retornar. Pressentir é aquela ansiedade de que algo aconteça, mas o quê? Não sei. Nem porque. É sentir o tempo e sua passagem marcando a alma e o corpo de maneira estranha, como se o tempo passasse mais depressa ou mais devagar que no próprio relógio. É o interminável agosto que tem um quase gosto de setembro porque quero flores. Sentir o futuro já, sabendo que esse já não é futuro coisa nenhuma. Degustar o sabor da sobremesa enquanto ainda se come o almoço. Iludir-se com uma nova capa para um livro já lido. Ver-se envelhecido em fotografias do ano passado e achar isso curioso. Ter a certeza que a morte está à espreita e mesmo assim se achar tão novo para esse tipo de aventura. Pressentir é sentir o que não se pode sentir ainda.

- Sentir é compreender o que não se pode entender ainda - Nasci sabendo de tudo, só que esqueci. Agora apenas sinto. Não sei explicar o sentir. Conseguir compreender o sentir sem entendê-lo só faz sentido quando sentido, mesmo esse sentido não sendo explicação. Sentir é o que ficou de fora dos tratados filosóficos e dos discursos científicos. O que não se pode nomear e só se sente por falta de palavra. Não se pode pôr em palavras porque elas servem para obedecer o sentir. Daí o meu silêncio quando me perguntam como eu me sinto. Sentir é o sem som absoluto, algo que só se compreende quando se cessa de escrever. Sentir é compreender o que não se pode entender ainda.

Erik Rosa


Comentários