O erro, a mentira e o engano



Tudo o que é certo, correto, normal, verdadeiro no ser humano, implica que haja somente um único caminho para ser descoberto, para ser efetuado, dito, pensado; uma única maneira de acertá-lo, chegar à verdade e obter vantagem. Para se acertar, faça isto; para se dizer a verdade, diga aquilo. Enquanto que, ao contrário, para o erro existem infindáveis meios. Para errar, simplesmente faça qualquer outra coisa coisa que não o acerto. Somente uma verdade e infinitos enganos. Mas é aqui que eu decido me enveredar pelo caminho mentiroso: o equívoco e a mentira são as únicas realidades onde pode haver qualquer autenticidade e originalidade. Por outro lado, qualquer coisa que se pretenda como verdadeira em si mesma acaba por afunilar toda a existência num sentido estrito desprovido de multiplicidade. Pode-se ser muitos contanto que não haja verdade. O erro e a contradição geram um atrito que eclode em inúmeras direções. No acerto não se é nada, só uma palavra, uma frase, uma definição; não há batalha, e por isso não há vencedor nem perdedor. O acerto nada cria. O erro, por outro lado, é como útero materno e faz brotar infinidades. No engano e no erro se é qualquer um. Somente na mentira é que encontramos a dignidade humana, porque só ela permite existirmos e depois nos "definirmos", só ela nos trata como reverência. Em suma, o erro é o que permite a criatividade. O que são todas as grandiosas coisas humanas se não um apanhado de mentiras resplandecentes? O que é a história de vida de cada um de nós se não uma sucessão de muitos erros, derrotas e poucos acertos, sucessos? Procure a verdade e caíra na mentira, abrace a mentira e não caíra jamais. Quer conhecer algo? Procure onde esse algo não é. Quer conhecer alguém? Pergunte pelos seus erros.  


Erik Rosa                                                                                                             

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