A (des)razão desses escritos
Esses escritos não são dedicados a ninguém, e entretanto, a todo mundo. Seja quem for que os leia, não importa. Sempre me perguntei quais seriam as razões pelas quais alguém registra um pensamento ou narrativa numa folha de papel em branco ou em alguma tela. Deve haver inúmeros motivos. Eu mal conheço os meus. Começo a escrever aqui porque quero ter um filho. Um filho, ainda que prematuro e imperfeito, com erros gramaticais e má ortografia. Mas por que um filho, você me pergunta? Bem, acho que poucos são aqueles que desejam morrer. E, de alguma forma, todos buscam a eternidade. Escrevo agora porque quero intensamente o amanhã, não como um querer consciente e arquitetado, mas como algo que brota de dentro e impulsiona a deixar uma marca, um risco, uma continuidade, um respiro. Quero esse filho porque a morte me assombra, escrevo porque não quero morrer, mesmo embora eu saiba que escrever me faça ficar ainda mais perto da minha morte.
A princípio, a ideia é escrever o que vier à cabeça. Para satisfazer o desejo de anotar o que surge espontaneamente de dentro de mim mesmo, ao contrário do que fizeram me acostumar a fazer, que é ler e escrever com vistas num objetivo externo à própria palavra. É isto. Entretanto, agora que comecei esta empreitada numa "escrita livre", percebo a aguda dificuldade e me encontro num enorme desafio: as páginas pálidas e lisas me encaram (sim, antes de publicar aqui o texto é escrito à mão), me clamam por ação. Escreva! Escreva! É como se houvesse uma mulher nua em minha cama enquanto eu exito. Escreva! É a consciência, essa mulher. São os outros. Que inferno, não me fico sozinho nem por um mísero instante. Mesmo quando tenho que me encarar nesse espaço em branco ocorre de me deparar com eles. Essa terceira pessoa do plural que cerceia, atravessa e julga a minha escrita.
Terei de lutar por todo o tempo enquanto escrevo. E a melhor maneira de iniciar essa dura luta é me defender da consciência e permitir a caneta dominar...
Erik Rosa
Erik Rosa
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